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quarta-feira, março 29, 2006

Além do Ponto de Fusão

Todas as tardes: os chocolates, a água gelada, as pedras de gelo. Às vezes um suco, mas sempre as pedras de gelo.
Roendo as unhas da mão esquerda, escreve com a direita: "Felidae, porque família termina em idae, segundo a regra de nomenclatura binomial proposta por Lineu".
Pausa. Encara a parede cheia de retratos que resumem a vida ativa de sua irmã. Profundo suspiro. Mais chocolates. Agora, o preferido, pedacinhos de açúcar e cacau que adoçam e ferem seus dentes, sensíveis pelo excesso de glicose e gelo, muito gelo.
Sempre magra, por sorte ou ruindade, tentando se encaixar, não num lugar, mas num tempo. Come, lê, come, relê, come, come...
A digestão nunca foi fácil para ela, de todas as coisas do mundo. Pára, percebe, analisa, contrai. Com a cervical em C e a lombar em S, acende a luminária (e a escrivaninha cada vez mais cinza, cada vez mais grafite, cada vez mais rascunho), abre o único livro espiralado que gostaria de não ler e o lê, fervorosamente, 6 horas por dia, até que o jantar fique pronto, até que o chuveiro esquente aquela água clorada, até que um amigo (que reconhece suas marcas invisíveis) on-line pergunte: "como você está?" e ela responda: "tô bem, tô indo...".
Olha agora para o teto, cheio de falsas estrelas e explica para si porque elas brilham no escuro: "são os elétrons excitados voltando para as camadas menos energéticas e liberando ondas eletromagnéticas em forma de luz". Permite-se, por um instante: "quando foi que tudo ficou tão vazio?".
Enche mais um copo com gelo, muito gelo.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

E quando foi que tudo foi tão cheio para esvasiar-se?
Essa miserável existência provisória, postergando a inevitável morte. Essa vida pobre, cheia de compaixão desapaixonada. Quando foi ela cheia de algo que não fosse simples futilidade, frivolidade.
Hominidae,

E o tempo amontoa-se numa montanha de recordações e fotos antigas. Apenas mais poeira acumulando sobre o nada.
Como disse o poeta Manuel de Barros "...a gente é rascunho de pássaro, faltou acabarem de fazer..."

Incompletos. Nunca encaixaremos em nada, descalços ou calçados.

19:51  
Anonymous Anônimo said...

To até meio assim de te deixar um comentário normal, depois de todos os comentários de pessoas que sabem escrever, inclusive vc...
enfim, tirando a magreza e o copo de agua com gelo (odeio agua), é mais ou menos por ai aki também...
Acho que vou seguir sua ideia e começar a escrever tambem, mas publicar na net, nunca! afinal, não escrevo bem e ninguem nunca entende o que escrevo!
Gostei desse, mto bom. Bjo

14:51  
Blogger lucas fábio said...

Talvez seja melhor do que parece.
No meu caso era uma agonia constante por não conseguir passar mais que duas horas lendo o livro aspiralado...

Mas, pelo que eu vejo, logo logo vai passar.

20:07  
Anonymous Anônimo said...

ISSO E UMA DESGRAÇA

19:54  

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