Nostalgia Inanimada
Foi como quando tinha três anos. Ingênuo. Delicado. Pueril.
Tudo outra vez: olhos brilhando, sorriso escancarado, face rubra.
Lembrou como era divertido ver coelhos nas nuvens e imaginar qual o sabor delas e quantos coelhos iriam visitá-la no dia seguinte. E todas as tardes ficava no quintal olhando o imenso azul e seus branquinhos felpudos. Gritos transbordavam de seus pequeninos lábios, jogados ao vento, tamanha a alegria trazida pela observação. Até que um dia eles não vieram. E ela esperou:
- Será que erraram o caminho?
Esperou:
- Será que algo de ruim aconteceu?
Esperou:
- Será que eu não sou especial para eles?
E esperou:
- Está muito frio aqui, vou para o quarto.
Quando abriu os olhos estava com um cigarro aceso entre os dedos, uma xícara de café em cima de uma mesa pastel cheia de burocracias pendentes, com um quadrado cor-de-gelo que pedia a senha para acessar os débitos, dentro de um cubículo em meio a tantos outros.
Olhou para todas as paredes que a rodeavam, como um filhote na caixa de supermercado logo que é privado do aconchego de sua mãe:
- Paredes tão finas. Devem ser de plástico, do mais vagabundo. Não, pelo salário que ganho devem ser de papelão.
E teve a certeza de que os coelhos jamais voltariam.
Tudo outra vez: olhos brilhando, sorriso escancarado, face rubra.
Lembrou como era divertido ver coelhos nas nuvens e imaginar qual o sabor delas e quantos coelhos iriam visitá-la no dia seguinte. E todas as tardes ficava no quintal olhando o imenso azul e seus branquinhos felpudos. Gritos transbordavam de seus pequeninos lábios, jogados ao vento, tamanha a alegria trazida pela observação. Até que um dia eles não vieram. E ela esperou:
- Será que erraram o caminho?
Esperou:
- Será que algo de ruim aconteceu?
Esperou:
- Será que eu não sou especial para eles?
E esperou:
- Está muito frio aqui, vou para o quarto.
Quando abriu os olhos estava com um cigarro aceso entre os dedos, uma xícara de café em cima de uma mesa pastel cheia de burocracias pendentes, com um quadrado cor-de-gelo que pedia a senha para acessar os débitos, dentro de um cubículo em meio a tantos outros.
Olhou para todas as paredes que a rodeavam, como um filhote na caixa de supermercado logo que é privado do aconchego de sua mãe:
- Paredes tão finas. Devem ser de plástico, do mais vagabundo. Não, pelo salário que ganho devem ser de papelão.
E teve a certeza de que os coelhos jamais voltariam.
4 Comments:
Se a certeza de que eles não voltam veio quando ela abriu os olhos... porque não fechar os olhos novamente, ou melhor, arrancar os véus sombrios do mundo burocrático, e reabrir os olhos da imaginação? Quem sabe então não apareça, num canto inesperado do quarto, a toca em que os coelhinhos moram e estavam à espera? Beijos
Cobriu-me com uma manta e deu-me beijo de boa noite.
Os coelhinhos virão, assim que descobrirem o caminho da selvageria. Até lá, desenhe, desenhe, paint a picture.
Beijo.
Quem sabe ainda voltarão um dia.
Só não vou esperar mais. Mas talvez voltem.
Esses coelhos terríveis. Coelhos adiados.
(escapou o dedo na tecla enter antes da hora, antes que pudesse assinar)
Postar um comentário
<< Home