Dead Woman Walking

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quarta-feira, maio 03, 2006

Morbidez de Um Anjo

Arranco do meu crânio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!
(A Dança da Psiquê - Augusto dos Anjos)

Andando naquela estrada-de-terra, suja até os últimos fios de cabelos amarelos que saíam de um crânio perplexo, pensava sobre a noite anterior. Não descobriu, não compreendeu.
E foi assim o caminho todo: rastejando sem perceber que o sangue lhe escorria dos joelhos; que o barro pintava seus pés, que rodopiaram tão graciosamente com Ele.
Lapidava com o olhar o par perfeito que a tirou para dançar e entre conversas sobre um nada-cult-pós-moderno a convenceu. Saiu de lá. Saíram.
Duas taças em cima da na mesa. Preferiu um copo com whisky, puro; ao som de Miles Davis, lembra-se de Hilda Hilst-"porque há desejo em mim, é tudo cintilância..."- e o início de um breu, não somente na sala, mas em tudo o que via. Estava bem, estava muito bem. [apagou]
Machucada no corpo e na alma foi cambaleando pelo nada à procura, não de ajuda, não de consolo, mas de alguma lâmpada acesa para limpar os pés (tão bonitos) e enxugar as lágrimas que borravam o trabalho de quase 2h em frente ao espelho.
Nunca antes a vergonha tinha lhe batido com tanta força. Desejava a morte de todos os entes para que não a vissem padecente, indecente. Desejava ainda mais a sua morte.
Um posto policial: estacionou por lá. Não lhe restava dinheiro, não lhe restava dignidade. Inventou uma história de um assalto qualquer e, após toda a burocracia brasileira, foi levada para casa.
Não saiu de seu reduto até que todas as marcas arroxeadas de seu corpo desaparecessem.
Ninguém sabe. Ninguém, jamais, saberá.